quinta-feira, 15 de outubro de 2009

AS PISCINAS


Segundo Siza, era necessário tirar partido dos rochedos da praia de Leça, completando a contenção da água somente com as paredes estritamente necessárias. A forma arquitetônica, a escolha da técnica construtiva e dos materiais são conseqüências práticas da interpretação do sítio. Somente as grandes linhas da paisagem influenciam no projeto, e em alguns acidentes que participam da construção das piscinas.


O resultado é uma contraposição proposital entre a organicidade dos rochedos e a geometria da arquitetura. A forma geológica da paisagem é considerada no desenvolvimento da concepção, de modo que não há intencionalmente uma camuflagem das modificações. A intervenção agrega identidade ao lugar, numa relação ambígua de aproximação e distanciamento entre arquitetura e elementos naturais, conformando uma noção clara do que foi modificado e construído pelo homem. Já não é uma relação puramente mimética, e sim uma transformação da paisagem. “Arquitetura é geometrizar.”


A arquitetura atua como um universo intermediário; como uma costura entre mente e natureza. Sem aberturas convencionais, paisagem, arquitetura e meio ambiente trocam continuamente de lugar, sugerindo que as relações do homem com o espaço e a natureza incluem aspectos sensíveis e inteligíveis. Por exemplo, a circulação criada para dar acesso às piscinas, ao vestiário e à praia sintetiza um percurso extremamente elaborado do ponto de vista da sensibilidade poética e da percepção do lugar, com variações de luz e limitações visuais. Siza encontrava na idéia de profundidade e no controle da luminosidade os elementos essenciais de definição.


As construções principais da Piscina de Leça da Palmeira estão dispostas paralelamente ao passeio marítimo, e ficam abaixo do nível da estrada costeira, deixando o horizonte inalterado. Mas as linhas dos telhados e os parapeitos pontiagudos de concreto cortados pelas sombras formam um fundo para a visão que se tem, por cima das pedras, das piscinas, colocadas essas dentro dos pedregulhos com geometrias curvas e flexionadas.


Os muros baixos, as escadas e as bordas das piscinas fazem ligeiras incisões na paisagem e proporcionam uma transição gradual desde a linha rígida do muro do passeio até os fluídos limites do mar.


O visitante desce por uma rampa, passa embaixo de uma laje flutuante de concreto e atravessa uma série de passagens sombreadas quase fechadas, paralelas à costa e que levam aos vestiários e demais dependências. O banhista emerge de um labirinto de muros que impedem a visão do mar, para descobrir um único plano diagonal que lhe guia até as piscinas e que também direciona a vista até um porto que adentra o mar vários quilômetros ao sul.


A planta do conjunto revela o entrelaçamento de geometrias artificiais e naturais, e indica o modo em que os espaços se comprimem e logo se expandem. Siza recorda que projetou os muros e as piscinas com a ajuda de postes colocados nos contornos. O que nem os desenhos e nem as fotografias podem transmitir é a imediata e tátil inclusão física da arquitetura. Os muros e as lajes flutuantes são aspas de luz que impulsionam gradualmente o corpo humano desde a terra ao mar.
Os materiais empregados se restringem ao concreto aparente, à pavimentação de pedra, à madeira de pinho-de-riga especialmente tratada e às calhas de cobre, que conferem ao edifício o aspecto de uma ruína protegida por uma cobertura temporal.

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