Para um arquiteto da Província do Minho, no Norte de Portugal, a relação da arquitetura com o mundo físico da natureza é uma dimensão fundamental da construção, principalmente nos anos 50, quando Siza construiu suas primeiras obras de importância, a Casa de Chá Boa Nova e a Piscina em Leça da Palmeira, na costa atlântica de Matosinhos. Este é um período importante na cultura arquitetônica portuguesa, correspondendo à publicação de Arquitectura Popular em Portugal, um ambicioso estudo mesológico sobre a relação entre sociedade, espaço e natureza. A Piscina Oceano, em Leça da Palmeira, funciona como uma suave abertura tridimensional que organiza a passagem da terra para o mar.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
lugar | regionalismo crítico | contextualismo
A inspiração nos elementos específicos do lugar se converte em ponto de partida do projeto. Para iniciar cada projeto, Siza precisa travar um intenso diálogo com o lugar e os usuários. A essência da obra de Siza se baseia em sua capacidade de combinar em cada proposta a arquitetura racionalista e a sensibilidade em relação ao entorno.
Nesse sentido, Álvaro Siza é caracterizado como regionalista. Para Frampton, o regionalismo crítico é um modo de pensar a arquitetura como forma de valorizar os aspectos locais de uma determinada cultura, estabelecendo uma atitude de resistência perante o fenômeno da universalização cultural, a partir da relevância do contexto e de seus respectivos valores regionais. Há ainda a teoria dos contextualistas, que buscam na tradição do lugar e na cultura do lugar os valores que orientam sua produção: são os contextualistas que começam a entender o “espírito do lugar” (genius loci) como ponto de partida para a criação projetual. Foram influenciados pelas teorias de Ernesto Nathan Rogers, Aldo Rossi, Norbeg-Schulz, e tem relação com o conceito de regionalismo crítico de Kenneth Frampton.
Embora a paisagem seja só uma das várias obsessões recorrentes de Siza, se trata de uma das mais dominantes, e apesar de seu interesse por uma arquitetura que agregue significados ao lugar, o arquiteto não acredita que suas obras devam estar relacionadas com a idéia de uma arquitetura nacionalista ou superficialmente regional, que não existe relação alguma, nem sequer de materiais, com a arquitetura vernacular portuguesa.
Frampton define algumas características que ajudam a definir o Regionalismo crítico, e uma delas vai no mesmo sentido dessa afirmação de Álvaro Siza: "Enquanto se opõe à simulação sentimental do vernáculo local, em certos momentos o Regionalismo crítico vai inserir elementos vernáculos reinterpretados como episódios disjuntivos dentro do todo."
Frampton afirma ainda que o Regionalismo crítico, embora critique a utopia dos primórdios do Movimento Moderno, conserva alguns aspectos da arquitetura moderna, num processo que deveria ser de assimilação e reinterpretação dos elementos "universais".
Ainda que em contato com a cena global da arquitetura, especialmente após a Revolução de 74 em Portugal que pôs fim às várias restrições de informação até então presentes no país, Siza mantêm uma idéia distinta daquela arquitetura universal que pretendia transformar o mundo num mundo homogêneo:
Nesse sentido, Álvaro Siza é caracterizado como regionalista. Para Frampton, o regionalismo crítico é um modo de pensar a arquitetura como forma de valorizar os aspectos locais de uma determinada cultura, estabelecendo uma atitude de resistência perante o fenômeno da universalização cultural, a partir da relevância do contexto e de seus respectivos valores regionais. Há ainda a teoria dos contextualistas, que buscam na tradição do lugar e na cultura do lugar os valores que orientam sua produção: são os contextualistas que começam a entender o “espírito do lugar” (genius loci) como ponto de partida para a criação projetual. Foram influenciados pelas teorias de Ernesto Nathan Rogers, Aldo Rossi, Norbeg-Schulz, e tem relação com o conceito de regionalismo crítico de Kenneth Frampton.
Embora a paisagem seja só uma das várias obsessões recorrentes de Siza, se trata de uma das mais dominantes, e apesar de seu interesse por uma arquitetura que agregue significados ao lugar, o arquiteto não acredita que suas obras devam estar relacionadas com a idéia de uma arquitetura nacionalista ou superficialmente regional, que não existe relação alguma, nem sequer de materiais, com a arquitetura vernacular portuguesa.
Frampton define algumas características que ajudam a definir o Regionalismo crítico, e uma delas vai no mesmo sentido dessa afirmação de Álvaro Siza: "Enquanto se opõe à simulação sentimental do vernáculo local, em certos momentos o Regionalismo crítico vai inserir elementos vernáculos reinterpretados como episódios disjuntivos dentro do todo."
Frampton afirma ainda que o Regionalismo crítico, embora critique a utopia dos primórdios do Movimento Moderno, conserva alguns aspectos da arquitetura moderna, num processo que deveria ser de assimilação e reinterpretação dos elementos "universais".
Ainda que em contato com a cena global da arquitetura, especialmente após a Revolução de 74 em Portugal que pôs fim às várias restrições de informação até então presentes no país, Siza mantêm uma idéia distinta daquela arquitetura universal que pretendia transformar o mundo num mundo homogêneo:
“Não creio que a universalidade seja sinônimo de neutralidade, não é um esperanto da expressão arquitetônica, é mais a capacidade de se criar desde as raízes, como uma árvore que se abre; a expressão arquitetônica tem também essas fortes raízes... Meu sentido de universalidade tem mais a ver com a vocação das cidades, que vêm de séculos de intervenção, de mestiçagem, de sobreposição e de mistura das mais opostas influências, mas que se torna inconfundível. Um edifício em Berlim deve explicar sua localização para não ser mesquinho, limitado...”
Como resumo dessa atitude que nega a limitação do vernáculo, sem negar o seu uso, atrelado às novas técnicas modernas, Frampton define otrabalho de Siza na busca da ênfase do lugar:
"Essa hipersensibilidade em relação à transformação de uma realidade fluida e, contudo, específica, torna a obra de Siza mais estratificada e enraizada que as tendências estéticas da Escola de Barcelona, uma vez que, ao tomar Aalto como ponto de partida, ele fundamentou seus edifícios na configuração de uma topografia específica e na refinada textura da malha local. Com essa finalidade, seus fragmentos são respostas à paisagem urbana, campestre e marinha da região do Porto. Outros fatores importantes consistesm em sua deferência para com os materiais locais, o artesanato e as sutilezas da luz local; uma deferência que é mantida sem cair no sentimentalismo de excluir a forma racional e a técnica moderna."
AS PISCINAS
Segundo Siza, era necessário tirar partido dos rochedos da praia de Leça, completando a contenção da água somente com as paredes estritamente necessárias. A forma arquitetônica, a escolha da técnica construtiva e dos materiais são conseqüências práticas da interpretação do sítio. Somente as grandes linhas da paisagem influenciam no projeto, e em alguns acidentes que participam da construção das piscinas.
O resultado é uma contraposição proposital entre a organicidade dos rochedos e a geometria da arquitetura. A forma geológica da paisagem é considerada no desenvolvimento da concepção, de modo que não há intencionalmente uma camuflagem das modificações. A intervenção agrega identidade ao lugar, numa relação ambígua de aproximação e distanciamento entre arquitetura e elementos naturais, conformando uma noção clara do que foi modificado e construído pelo homem. Já não é uma relação puramente mimética, e sim uma transformação da paisagem. “Arquitetura é geometrizar.”
A arquitetura atua como um universo intermediário; como uma costura entre mente e natureza. Sem aberturas convencionais, paisagem, arquitetura e meio ambiente trocam continuamente de lugar, sugerindo que as relações do homem com o espaço e a natureza incluem aspectos sensíveis e inteligíveis. Por exemplo, a circulação criada para dar acesso às piscinas, ao vestiário e à praia sintetiza um percurso extremamente elaborado do ponto de vista da sensibilidade poética e da percepção do lugar, com variações de luz e limitações visuais. Siza encontrava na idéia de profundidade e no controle da luminosidade os elementos essenciais de definição.
As construções principais da Piscina de Leça da Palmeira estão dispostas paralelamente ao passeio marítimo, e ficam abaixo do nível da estrada costeira, deixando o horizonte inalterado. Mas as linhas dos telhados e os parapeitos pontiagudos de concreto cortados pelas sombras formam um fundo para a visão que se tem, por cima das pedras, das piscinas, colocadas essas dentro dos pedregulhos com geometrias curvas e flexionadas.
Os muros baixos, as escadas e as bordas das piscinas fazem ligeiras incisões na paisagem e proporcionam uma transição gradual desde a linha rígida do muro do passeio até os fluídos limites do mar.
O visitante desce por uma rampa, passa embaixo de uma laje flutuante de concreto e atravessa uma série de passagens sombreadas quase fechadas, paralelas à costa e que levam aos vestiários e demais dependências. O banhista emerge de um labirinto de muros que impedem a visão do mar, para descobrir um único plano diagonal que lhe guia até as piscinas e que também direciona a vista até um porto que adentra o mar vários quilômetros ao sul.
A planta do conjunto revela o entrelaçamento de geometrias artificiais e naturais, e indica o modo em que os espaços se comprimem e logo se expandem. Siza recorda que projetou os muros e as piscinas com a ajuda de postes colocados nos contornos. O que nem os desenhos e nem as fotografias podem transmitir é a imediata e tátil inclusão física da arquitetura. Os muros e as lajes flutuantes são aspas de luz que impulsionam gradualmente o corpo humano desde a terra ao mar.
Os materiais empregados se restringem ao concreto aparente, à pavimentação de pedra, à madeira de pinho-de-riga especialmente tratada e às calhas de cobre, que conferem ao edifício o aspecto de uma ruína protegida por uma cobertura temporal.
O resultado é uma contraposição proposital entre a organicidade dos rochedos e a geometria da arquitetura. A forma geológica da paisagem é considerada no desenvolvimento da concepção, de modo que não há intencionalmente uma camuflagem das modificações. A intervenção agrega identidade ao lugar, numa relação ambígua de aproximação e distanciamento entre arquitetura e elementos naturais, conformando uma noção clara do que foi modificado e construído pelo homem. Já não é uma relação puramente mimética, e sim uma transformação da paisagem. “Arquitetura é geometrizar.”
A arquitetura atua como um universo intermediário; como uma costura entre mente e natureza. Sem aberturas convencionais, paisagem, arquitetura e meio ambiente trocam continuamente de lugar, sugerindo que as relações do homem com o espaço e a natureza incluem aspectos sensíveis e inteligíveis. Por exemplo, a circulação criada para dar acesso às piscinas, ao vestiário e à praia sintetiza um percurso extremamente elaborado do ponto de vista da sensibilidade poética e da percepção do lugar, com variações de luz e limitações visuais. Siza encontrava na idéia de profundidade e no controle da luminosidade os elementos essenciais de definição.
As construções principais da Piscina de Leça da Palmeira estão dispostas paralelamente ao passeio marítimo, e ficam abaixo do nível da estrada costeira, deixando o horizonte inalterado. Mas as linhas dos telhados e os parapeitos pontiagudos de concreto cortados pelas sombras formam um fundo para a visão que se tem, por cima das pedras, das piscinas, colocadas essas dentro dos pedregulhos com geometrias curvas e flexionadas.
Os muros baixos, as escadas e as bordas das piscinas fazem ligeiras incisões na paisagem e proporcionam uma transição gradual desde a linha rígida do muro do passeio até os fluídos limites do mar.
O visitante desce por uma rampa, passa embaixo de uma laje flutuante de concreto e atravessa uma série de passagens sombreadas quase fechadas, paralelas à costa e que levam aos vestiários e demais dependências. O banhista emerge de um labirinto de muros que impedem a visão do mar, para descobrir um único plano diagonal que lhe guia até as piscinas e que também direciona a vista até um porto que adentra o mar vários quilômetros ao sul.
A planta do conjunto revela o entrelaçamento de geometrias artificiais e naturais, e indica o modo em que os espaços se comprimem e logo se expandem. Siza recorda que projetou os muros e as piscinas com a ajuda de postes colocados nos contornos. O que nem os desenhos e nem as fotografias podem transmitir é a imediata e tátil inclusão física da arquitetura. Os muros e as lajes flutuantes são aspas de luz que impulsionam gradualmente o corpo humano desde a terra ao mar.
Os materiais empregados se restringem ao concreto aparente, à pavimentação de pedra, à madeira de pinho-de-riga especialmente tratada e às calhas de cobre, que conferem ao edifício o aspecto de uma ruína protegida por uma cobertura temporal.
Referências
TESTA, Peter. Álvaro Siza. São Paulo: Martins Fontes, 1998 - Tradução Sylvia Fischer
MONTANER, Josep Maria. Depois do Movimento Moderno - Arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: GG. 4ª ed. 1999 . p.194-198
texto:
- “La continuidad del contextualismo cultural”.
El croquis
Álvaro Siza 1958-2000
FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
SIZA, Álvaro. Imaginar a Evidência. Lisboa: Edições 70, 1998, p.27
http://alvarosizavieira.com
http://www.leca-palmeira.com/historia_monografia/piscinamares.htm
MONTANER, Josep Maria. Depois do Movimento Moderno - Arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: GG. 4ª ed. 1999 . p.194-198
texto:
- “La continuidad del contextualismo cultural”.
El croquis
Álvaro Siza 1958-2000
FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
SIZA, Álvaro. Imaginar a Evidência. Lisboa: Edições 70, 1998, p.27
http://alvarosizavieira.com
http://www.leca-palmeira.com/historia_monografia/piscinamares.htm
Assinar:
Postagens (Atom)